Movimento e mudanças políticas e administrativas pós-independência
“O declínio da extinção formal do colonialismo europeu na
África não tem uma data inaugural. A multiplicidade dos povos africanos impede
que a trajetória de cada Estado nacional seja entendida como uma simples
extensão da história europeia contemporânea. É evidente que fatores externos
influenciam mudanças internas, mas é preciso considerar quais situações de
grande ressonância internacional, como fim da Segunda Guerra Mundial e a
consolidação da Guerra Fria são impostas e negociadas de maneira diversa em uma
porção de terra com mais de 30 milhões de quilômetros quadrados e um conjunto
de povos que supera a marca de 1.500 línguas faladas.”(MEIHY; MATTOS; PARADA,
2013, p.109)
O fim do colonialismo europeu veio com o momento em que a
geopolítica mundial se dividia entre aliados e opositores da influencia dos Estados
Unidos e da União Soviética. Os modelos de Estado nacional moderno, de
liberdade política e de planejamento econômico almejado pelos povos africanos
durante o processo de descolonização do continente vinham de outras partes do
mundo. A autonomia dos povos anunciada pelo presidente norte-americano Woodrow
Wilson, a desobediência civil propagada por Gandhi, na Índia, e a revolução social
promovida por Lênin, na União Soviética, foram importantes parâmetros para o desenvolvimento
do processo de descolonização da África, mas não se pode negar que a luta
anticolonial de Argel e a reconstrução da unidade nacional sul-africana com
Nelson Mandela também influenciaram outras experiências em todo o mundo.
A partir do momento que o “Terceiro Mundo” se transformou
em palco do conflito entre capitalismo e comunismo. Por isso a África, na
segunda metade do século XX, passou a integrar esse “Terceiro Mundo” tão diverso
quanto a própria África como continente. “A Guerra Fria transformou as colônias
europeias da África em uma área de revoluções, golpes de Estado e conflitos
armados que fizeram da descolonização um mosaico muitas vezes formado de ouro e
cadáveres.” (MEIHY; MATTOS; PARADA, 2013, p.110)
As independências formais
dos países africanos
(MEIHY; MATTOS; PARADA, 2013, p.110) |
Os
primeiros colonizadores chegaram ao território do Cabo Verde em 1652
(território pertencente à atual África do Sul). Esses colonizadores foram
enviados pela Companhia Holandesa das Índias Orientas.
Os colonizadores foram conhecidos como Bôeres ou
Africâner. Estes tentaram criar uma republica independente em 1795. Entretanto,
em 1815, a Grã Bretanha toma posse da colônia do Cabo, levando quase 12 mil Africâner
a saírem desse território, estabelecendo-se em território ao norte e ao leste,
estabelecendo as repúblicas Transvaal e o Estado Livre de Orange.
Devido á descoberta de diamantes nessas republicas, o
primeiro-ministro da colônia do Cabo, Cecil Rhodes, idealiza a anexação destes
territórios, o que desencadeou um conflito contra os Bôeres. A guerra tem seu
início em 1899 e, em 1902 os Bôeres são derrotados. Isso levou a unificação da
África do Sul. Foi composta por quatro províncias e seu primeiro-ministro foi
Louis Botha. Somente em 1912 foram estabelecidas as atividades políticas pelo
Congresso Nacional Africano (ANC), liderado por Nelson Mandela, o qual era
antagônico a então ideologia partidária e administrativa do país.
Na
segunda guerra, Jan Smuts, sucessor de Louis Botha, apoia os aliados, o que fez
com que a África do Sul passasse a integrar as Nações Unidas, em 1945. Apesar
da integração ás Nações Unidas, o primeiro-ministro recusou-se a assinar a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, fazendo com que o Apartheid
(separação racial) dominasse a política do país. O movimento “Apartheid” é
então instaurado no país, em 1948, depois da subida do Partido Nacional no
poder. Bantus (africanos negros), asiáticos e Coloreds (pessoas não brancas)
sofreram grande repressão após a dominação do Partido Nacional. Exemplo disso
foi a proibição dos eleitores negros de votarem. Muitos africanos foram
enviados para zonas rurais, onde viviam em extrema pobreza sob severas leis.
O
ponto crucial do Apartheid acontece em 1961, quando a União da África do Sul é
declarada como república independente, fazendo com que o partido nacional
intensificasse a segregação racial. A declaração da África do Sul como
republica independente, em 1961, através do domínio do Partido Nacional, foi o
ponto crucial para o fortalecimento da segregação racial do país.
O
Congresso Nacional Africano (ANC), criado em 1912, foi o principal movimento
antiapartheid.
Após
a década de 1960, a oposição internacional contra o Apartheid cresceu. A ONU
passou a criar políticas para que diversos países rompessem com a África do
Sul. O Apartheid se enfraqueceu quando F.W. de Klerk substituiu P.W.Bothe na
presidência do país, em 1989. Klerk retira o ANC da ilegalidade e liberta
Nelson Mandela após 27 anos de prisão.
Começa a ser elabora, em 1991, a nova constituição do
país, idealizada por Klerk e Mandela, que serviu para concretizar a democracia
na África do Sul, estabelecendo uma democracia multirracial.
Esta
constituição foi aprovada em 1993. Devido à esses movimentos, Klerk e Mandela
ganharam o Prêmio Nobel da Paz. A primeira eleição multirracial aconteceu em
1994, dando a vitória a Nelson Mandela com mais de 60% dos votos, que, dessa
vez, incluíam a participação de negros.
Ao
contrario do que era previsto, não houve tumultos durante o pleito, e, nos anos
seguintes, Mandela pode determinar o fim do regime do apartheid e a instauração paulatina da um governo de unidade
nacional sem revanchismos. Desde a ascensão ao poder de Nelson Mandela, o
Congresso Nacional Africano passou a controlar a política e a reconstrução do
país, conquistando o respeito da opinião pública internacional e vitórias
políticas que demonstram a mudança da imagem da África do sul, podemos citar como
uma dessas conquistas a África do Sul sediar a copa do mundo de 2010, sendo o
primeiro país africano a fazê-lo.
Ainda que o cenário político,
econômico e social da África do Sul tenha se tornado mais positivo, alguns
problemas não desaparecem com a mesma rapidez com que se alastram. Os novos
desafios sul-africanos concentram-se em segurança pública, controle dos índices
de contágio de doenças como a AIDS (HIV), além da responsabilidade de ser uma
liderança regional atuante em favor dos países africanos no jogo político
internacional. O apartheid pertence,
oficialmente, ao passado, mas as consequências de um longo período de práticas
racistas e discriminatórias continuam parte do presente.
Referências:
PARADA, Maurício;
MEIHY, Murilo Sebe Bon; MATTOS, Pablo de Oliveira. História da África
contemporânea. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro, 2013. 206 p. ISBN 9788534705073.
KI-ZERBO, Joseph; MUKHTAR,
Muhammad Jamal al-Din; FASI, Muhammad; NIANE, Djibril Tamsir; OGOT, Bethwell
A.; AJAYI, J. F. Ade; BOAHEN, A. Adu; MAZRUI, Ali Al' Amin; Unesco (Coord.). História geral da África. Brasília: Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2010. 8 v. : ISBN 9788576521235 (v.8
A menção a Nelson Mandela está confusa, pois sugere que ele participou do Congresso Nacional Africano e foi preso nesta época. Mandela nasceu em 1918 e não teria como atuar no período do ANC. Sua prisão ocorreu nos anos 1960. É oportuno corrigir a informação.
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